Desde os primeiros séculos, a Igreja procurou proteger o seu maior tesouro de modo a que o culto divino espelhasse com fidelidade a fé apostólica. Não se encontrará, no curso de sua história, nenhuma evidência de que a Igreja tenha negligenciado sua sagrada liturgia.
Pelo contrário. Ver-se-á que, tão-logo superadas as perseguições, os cristãos cuidaram para que a missa fosse celebrada por meio de um rito que demonstrasse com esmero a sua sacralidade. De celebrações feitas nos subterrâneos, sobre os túmulos dos mártires, os Sagrados Mistérios são logo 'cercados' por um cuidado crescente para que os gestos litúrgicos testemunhassem a grandeza do sacramento.
Lex orandi, lex credendi
A harmonia entre o que se celebra e o que se crê é fator determinante da coerência da liturgia. Com efeito, seria vazia de conteúdo qualquer ação litúrgica em descompasso com a realidade celebrada. Desse modo, podemos compreender a importância que se deve dar à observância das rubricas do Missal Romano, das determinações da Santa Sé e do cuidado que se deve cercar tudo que se aproxime do altar.
Se Jesus, sabendo próxima a sua hora, mandou que os apóstolos preparassem convenientemente o lugar da Última Ceia, não seríamos nós a descuidar da necessária preparação para trazer-nos presente a mesma ceia, o mesmo sacrifício. Assim, como é conveniente rejeitarmos uma opulência desmedida que desvirtue a austeridade do Santo Sacrifício, também devemos afastar a tentação recorrente de entender desnecessários, ou mesmo impróprios, os cuidados em embelezar a Sagrada Liturgia. Hoje, como ontem, a riqueza dispensada ao Santíssimo Sacramento nunca será um desperdício (cf. Mt 26,6-13).
Se a liturgia da santa missa deve ser enriquecida com objetos, sinais e gestos que demonstrem a riqueza do tesouro que ela vela e revela, o que dizer das disposições interiores daqueles que a ela acorrem? Eis a 'regra de ouro': o que não seria oportuno no Calvário, não o seria também na missa, pois estamos diante da mesma realidade.
A missa; o mesmo e irrepetível sacrifício de Cristo tornado presente para nós, que vivemos sob o tempo; pede de nós a mesma disposição de espírito que seria de se exigir caso estivéssemos presentes no momento histórico do Calvário. Aqui, mais uma vez, há que se fixar que a lei que rege a oração deve ser a mesma que rege a fé. Como conciliar a realidade de se estar diante do sacrifício redentor de Jesus Cristo com uma atitude exterior displicente ou mesmo imprópria? Em sentido contrário, que exemplo fecundo não empresta o fiel que demonstra exteriormente a sua disposição interior à adoração do mistério tornado presente no altar!
As regras litúrgicas, por conseguinte, vistas como devem ser vistas, estão longe de ser um cerceamento da expressão livre da fé, mas guias eficazes para que a nossa oração litúrgica seja o reflexo perfeito da crença que nos move. As palavras do Santo Padre, o Papa João Paulo II, bem ilustram o caráter meritório de uma singela e serena submissão às orientações e às normas litúrgicas: "O sacerdote que celebra fielmente a missa segundo as normas litúrgicas e a comunidade que às mesmas adere demonstram de modo silencioso mas expressivo o seu amor à Igreja." (Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia)
A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou uma instrução, chamada Redemptionis Sacramentum (O Sacramento da Redenção), estabelecendo regras a serem observadas por toda a Igreja. Basicamente, o documento chama a atenção dos fiéis para a necessidade de se coibir abusos que de forma alguma eram desejados por ocasião da reforma litúrgica introduzida pelo Concílio Vaticano II.
Nas palavras do Papa João Paulo II, "a reforma litúrgica do Concílio trouxe grandes vantagens para uma participação mais consciente, ativa e frutuosa dos fiéis no santo sacrifício do altar", mas, "a par destas luzes, não faltaram sombras, infelizmente" (Ecclesia de Eucharistia, 10). Na realidade, as sombras a que se refere o Papa são as experimentações abusivas que se seguiram à reforma, muitas feitas ao arrepio da autoridade apostólica, um 'laissez faire' incompatível com a unidade da liturgia e, em muitos casos, introduzindo elementos que obliteram princípios teológicos indisponíveis, como a indispensabilidade do sacerdote na celebração do Santo Sacrifício.
No esteio dessas experimentações, passaram a surgir expressões francamente equívocas, como "ministro extraordinário da eucaristia", "comunidade celebrante" ou mesmo conceitos que despojam a sacralidade e o valor sacrificial da Santa Missa. O Santo Padre se refere a alguns deles, como a redução da missa a um "encontro fraterno ao redor da mesa". Tudo isso nunca foi querido pelo Concílio nem estabelecido pela Igreja. Na verdade, basta uma leitura dos documentos oficiais da Igreja para se ter a convicção que o Concílio não quis essas experiências.
Para uma melhor compreensão da realidade em que se insere a Instrução, recomendamos a leitura da apresentação da Instrução Redemptionis Sacramentum, feita pelo cardeal Francis Arinze, então prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
A íntegra da Instrução Redemptionis Sacramentum, com as normas e recomendações da Santa Sé em relação à liturgia, pode ser lida no site, disponibilizada com recursos para facilitar a navegação. É um documento riquíssimo, lúcido e indispensável. Para uma melhor compreensão da importância do tema, recolhemos alguns exemplos de abusos litúrgicos, infelizmente freqüentes, para auxiliar o fiel a identificá-los e corrigi-los.
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